Artigo sobre a Lagoa Misteriosa por Gilberto Menezes de Oliveira no livro Cavernas do Brasil (autoria de Augusto Auler, Ezio Rubbioli e Roberto Brandi publicado em 2001).
Município: Jardim (MS)
Coordenadas do Lago: UTM 21 557540-7627380
Desnível: 211 m
Desnível Explorado Abaixo da linha da água: 220m
Número de Cadastro: MS 043
Rocha: Carbonatos do Grupo Corumbá
A quinta caverna mais profunda do país está inteiramente sob a água. O próprio nome do local, Lagoa Misteriosa, chama a atenção das pessoas e fascina todos aqueles atraídos pelo desconhecido. O que haveria de misterioso na lagoa? Chegando-se até o local, encontramos uma dolina e no fundo um bonito lago que mede aproximadamente 60 m por 25 m e meio a uma densa vegetação. Na primeira vez que estivemos no local, ficamos sabendo que ninguém conhecia o que havia no fundo da lagoa e nem tampouco a profundidade desta. O proprietário das terras relata estranhos sons que emanariam do fundo do lago.
A caverna inicia-se como dois poços verticais aproximadamente 9 m abaixo da linha d’água (desta forma a profundidade em relação à caverna será sempre 9 m inferior a profundidade atingida no mergulho; as profundidades referidas neste artigo serão sempre em relação ao nível do lago).
O primeiro mergulho na Lagoa Misteriosa foi realizado em setembro de 1992 durante a expedição franco-brasileiro Bonito ’92. Nesta ocasião, em um mergulho solo em ar comprimido Augusto Auler, do Grupo Bambuí de Pesquisas Epeleológicas, atingiu – 66 m de profundidade no Poço B, e 77 m no Poço B. Em novembro do mesmo ano Jorge Hallak atingia – 82 m no Poço B, sofrendo sério acidente descompressivo.
A partir de 1995 as explorações na Lagoa Misteriosa adquirem uma nova dimensão, mais técnicas e intensiva, com o início dos mergulhos exploráticos de Gilberto Menezes, auxiliado por diversas pessoas, entre elas Rogério Perdigão, Matheus Sanches, Lucille Bishop, Sergio Manques e Afonso Pinheiro. Inicialmente as explorações foram realizadas com a utilização da técnica de mergulho autônomo, respirando-se ar comprimido. Ambos os poços foram explorados, obtendo-se em maio de 1995 a conexão entre eles. Uma fenda lateral ao Poço A foi explorada até uma restrição a – 82 m e, posteriormente, até – 104 m. No Poço principal atingiu-se – 121 m em junho de 1995 e, em setembro do mesmo ano, atingiu-se – 129 m, quando Gilberto Menezes se perdeu sob forte efeito da narcose, tendo efetuado acidentalmente a conexão entre o poço principal e a fenda lateral ao Poço A.
Com a verificação de que o local era muito profundo, passou-se a utilizar misturas respiratórias diversas, sendo que para as profundidades maiores utilizaram-se misturas respiratórias diversas, sendo que para as profundidades maiores utilizarem-se misturas ricas em gás hélio e, nas mais rasas, misturas ricas em oxigênio. Em agosto de 1996, atingiu-se a profundidade de – 154 m, quando foi efetuada uma sondagem, com o peso repousando a uma profundidade total de 220 m.
Em junho de 1997, Gilberto Menezes atingiu – 180 m de profundidade na Lagoa Misteriosa, e em junho de 1998 atingiu um cone de abatimento a – 220 m de profundidade. Neste mergulho mais profundo foram utilizadas 8 misturas respiratórias diferentes, com uma duração total de 8 horas de mergulho. Em setembro de 1998 foi descoberto um túnel lateral a – 115 m de profundidade.
Infelizmente até hoje não foi possível fazer um mapa preciso do local. Possuímos apenas um esboço desenhado de memória.
A caverna é muito profunda, o que dificulta a exploração devido ao curto espaço de tempo de que o mergulhador dispõe em profundidade. Existe muito o que olhar e inspecionar abaixo dos 120 m de profundidade. O sistema é muito maior no fundo do que na superfície. A Lagoa Misteriosa consiste em uma dolina com um desnível, na parte seca, de aproximadamente 40 m. O restante se encontra abaixo do nível d’água. Existem dois poços basicamente verticais, com cerca de 6 m de diâmetro, que se iniciam aproximadamente – 9 m. Os dois poços se encontram por volta de – 60 m, seguido num ângulo de cerca 60° para oeste com relação ao horizonte até à cota de cerca de – 120 m. Neste ponto encontra-se uma parede quase vertical que desce até a cota de – 151 m, quando então o sistema se abre e atinge dimensões ainda não verificadas. Descendo verticalmente neste ponto, encontramos um cone de desabamento a cerca de – 205 m, com rochas no topo e areia muito branca ao redor, com inclinação em torno de 30° em relação ao horizonte, perdendo-se de vista o final. A profundidade máxima atingida até o momento é de – 220 m em relação ao nível do lago, o que se traduz (descontando-se os 9 m de água até a entrada da gruta) em 211 m de profundidade para a Lagoa Misteriosa.
É preciso estudar muito mais esta caverna para compreendermos a real importância do sistema. A Lagoa Misteriosa se encontra atualmente em processo de regularização junto ao IBAMA para a exploração turística.
Bibliografia: Auler (1993ª), Auler e Boller (1992). Oliveira (1996), Olievira (1999), Rosello (1993).
*Artigo por Gilberto Menezes de Oliveira no livro Cavernas do Brasil (autoria de Augusto Auler, Ezio Rubbioli e Roberto Brandi publicado em 2001).